A Maria mãe de dois e construtora de violinos é minha amiga faz tempo e como voa.
Um dia de Abril ligou-me. A Maria gostava que lhe fizesse um retrato da sua avó. Envio-me uma fotografia bonita. Um retrato antigo da Celeste também Maria. Retrato. Na mesma mensagem, um link para um video. Se por um lado me surpreendeu que a avó da Maria canta-se o fado, por outro, que o canta-se com tanta alma, com tanta idade, com tanto fado. Maria Celeste Rebordão Rodrigues, disse-me, ser a mais velha interprete de fado e irmã de Amália. Fiquei estupefacto. Não sabia da existência de uma irmã de Amália, com um nome mais sonante e com uma voz tão única e ainda no activo. Viva! Espantou-me não o saber e que como eu, Celeste devia de ser do desconhecimento público pela sombra da sua defunta e panteonada irmã. Estranho. Negro. Pois claro, fado. Por tudo isto, num abraço de agradecimento aceitei o trabalho e uma impressão da fotografia da Celeste passou a ser um olhar cada vez mais assíduo no atelier. No dia 13 de Maio fiz um primeiro estudo que surgiu algo insólito. Um ponto de partida para a composição do quadro, julguei de início. Passou uma semana e depois de ouvir tocar o meu amigo Pedro Antunes numa reunião de amigos, considerei que a guitarra portuguesa não estava firme na primeira abordagem e iniciei o segundo retrato sobre uma folha vivida resgatada de moldura. Com dedicação dedilhada dei-o como terminado e compreendi que na análise dos dois estava mais perto do que pretendia para a minha representação. Uma soma. Sem anulação, na análise da dualidade senti falta de um terceiro trabalho que completa-se o meu retrato(s) da Celeste. Precisava de um terceiro momento que viu o seu início no encontro de uma porta lacada a negro entregue às vielas de Alfama que trazida comigo limpei. Passou tempo e de madrugada num processo de resgate quase arqueológico do acrílico em secagem, juntei ao volume o terceiro elemento. Assim, por devir e na interiorização da mudança que dai advém, retratei a Maria Celeste Rebordão Rodrigues em três peças que se devem manter unidas no desejo de irem um dia para o Museu do Fado.
Hoje celebram-se os 70 anos de carreira da Celeste que, do coração, espero que depois de uma vida de representação e entrega ao Fado, seja protegida, muito acarinhada, assumida como uma força viva e sem comparações: Única!
Diz que um dia destes vamos tomar um chá. Eu gosto da ideia, bem o merecemos.
Elemento 1
14,8 x 21 cm
Micron sobre papel de 220grs.
Elemento 2
31 x 40,1 cm
Acrílico e Micron sobre papel reutilizado.
Elemento 3
60 x 40 cm
Acrílico sobre porta lacada reutilizada.
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Verso do terceiro elemento
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