Agradeço a tua presença, esse olhar leitura, curiosidade ou o que seja que aqui vindo desejas, Agradeço.
Passam semanas sem aceder aqui, como se esquecer fora possibilidade. Voam meses sem que actualize, fixe aqui o que quero que seja. Deixar o querer trouxe o silencio a este lugar que sereno contrasta com as redes que alimento com assiduidade impulsiva e que a custo faço que entendo no deslize da serotonina. Aqui, um sentimento de refúgio secreto que se prolonga sem ofuscar. Uma distancia reservada que agrada e ata. Por um lado, agrada-me a sombra fresca longe da confusão das avenidas, anúncios buzinas e esplanadas barulhentas com palhinhas. Aqui, chupo a azeda num passeio sem destino programado, além de tu. Só ver chega tanto que o caminho se desfolha na gratitude de cada momento. Por outro lado, é bloqueio o arrastar do lastro com pouca corrente, sem vento nem rota aparente. Preciso sem depender do reflexo da tua pluma calada por volumes comandados, pós de arroz e segmentos. Perdão. O peso flutua sobre uma inconsistente massa de memória que indolor se tornou um estar, uma forma de olhar, um ser que só, solitário, sem reflexo ou mensagem não é. Ser. Ser corpo só não tem completo, afecto ou o reflexo vivo do olhar. Desalmado, se torna relíquia de cheiro a mofo, pó no escuro esquecido, carga de lixo arremessada pela janela num abafo de contentor. Delete. Libertação? Delete. Insatisfação? Delete de nada. Silêncio pausa.
Nada se ouve, a cântaros chovia.
"Nos primeiros anos de
escola lembro-me de me esconder atrás do meu talento e aptidão para a
Arte de desenhar, pintar, cantar, dançar, e tudo o que permitia
expressar a minha criatividade. Comecei a sentir vergonha por ser “boa”
em algo. “Desenhar bem” fazia-me sentir diferente e várias vezes
experienciar competição ou desdém, fez com que aquela criança, que
continha em si uma incrível facilidade de se expressar pela arte, se
fosse fechando na sua concha com medo de “ferir” os amigos e ser posta
de parte.
E assim, a fonte mais sagrada do fluir da vida, a
criatividade, se desvanece, dando lugar a bloqueios que influenciam
pensamentos, palavras e acções.
Como esta história, existem
tantas outras por aí. Vamos crescendo achando que fazer parte é ter
que ser igual aos outros, aprendendo a fazer letras “bem feitas” e
direitinhas num caderno de linhas verticais e azuis. Cheios de regras e
conceitos do que é belo ou feio, do que é certo ou errado.
Recentemente,
ao mostrar o meu trabalho e receber um feedback de comparação e
competição, este sentir longínquo de criança veio ao de cima.
Observei
o quanto aquele fantasma de ser “boa” ainda assombra o fluxo da minha
expressão no mundo. O não me mostrar por completo por conta dessa
memória..
Aceitarmo-nos como somos e a arte que fazemos, é um
acto de amor com a própria vida. E o belo e o feio que vemos fora, são
as partes que já aceitamos ou não dentro de nós.
Por isso
continuo a criar. Pelo poder de cura que todo este processo já me
proporcionou e por tudo o que já testemunhei ao facilitar e guiar
espaços de transformação e cura pela arte com outros Seres. É
poderoso e único.
É a minha medicina e servir com ela é trilhar o caminho do meu coração.
Não te escondas atrás daquilo que ainda te impede de sair da concha. A cura acontece caminhando.
Está lá fora um mundo inteiro à espera para te escutar. Salta. Voa. Expande.
Se quiseres a minha ajuda para esse salto, estou aqui ".
Marta Carvalho
"We use movement and dance to open up and explore some of the intra and inter-personal dynamics that are happening within the creation of community projects. Embodiment cuts through to the heart of things, helps us get real and show up as we are deep down with each other, giving us a chance to revision and encourage change for the benefit of everyone".
"...Am on my way back from Portugal now and thinking of you all, your kindness and generosity and how much I learnt from each of you! At the airport I was very happy to discover that there were still little bits of paint on the edges of my fingers that somehow I didn’t manage to wash off! That says it all - the experiences of the last couple of days will be engrained in me for ever!"
William P.
2021.
Acrílica sobre tela. 100x100.
Passos pequenos, superfícies enormes. Formas veladas sobrepostas, juntas, conectadas por desejo firmado em sonho. Um processo de acrílica pintura que na sua progressão foi lenta e livre fruiu cada momento e gesto como espelho. Na revelação, no encontro do limite da sugestão das distintas leituras, no toque e interacção de cada tonalidade e volume, fluxo, fracturas, dobragens, quedas, ascensão, equilíbrios sinuosos, lucidez e verticalidade. Densidade caleidoscópica onde sutis graus de desfazamento antecipam um novo lugar. Flexíveis padrões de movimento que convergem num encadeamento de reinvenção que dissolve tempo com vagar. Beleza. Natural linguagem, que integrando todos os mecanismos de hibridação anteriores, paradoxalmente os anula num pulsar inocente que, como um recém nascido, vem envolto na diversidade de combinações que ele próprio gera. Composição dinâmica que consolida a progressão de cada posição que a antecede na abertura de um espaço para a frente em projecção de futuro, só futuro, que soltando amarras, tudo perdoa, confiando por compaixão à luz de um amor universal que avança sem percas nem competição. Natural reflexo, combinado com humilde contemplação, integrada no encontro do amor na busca da sua essência. Passos pequenos, superfícies enormes.
A Canção da Borboleta, quando rodada no sentido inverso dos ponteiros, devolve quatro composições:
Prelúdio. Entrega. Caudal e Concórdia.
***
Song of the Butterfly
2021
Tiny little steps, gigantic surfaces. Overlapping glazed shapes, connected together by desire writen in a dream. A painting process that slowly and freely engaged each moment and gesture as a mirror meeting the eyes of the observer, in the touch and interaction of each tonality and volume, flow, fractures, folds, falls, ascent, sinuous balances, lucidity and vertical presence. A kaleidoscopic density where subtle curtines of lectures anticipate a new structure. Flexible patterns of movement used in a chain of reinvention that embraces time slowly dissolving it. Beauty. Natural language, which, by integrating all the previous hybridization mechanisms, paradoxically deletes them out in an innocent pulse that, like a newborn, comes involved in the diversity of combinations that it self generates. A composition that resume each moment that precedes it, opening a space forward, projecting the future, only future free from ties with the past, forgiving, trusting with compassion in the light of universal love that evolves without loss or competition. Natural reflex, combined with humble contemplation integrated trought the re-encounter of love in search of its essence. Small steps, gigantic surfaces.
The Butterfly Song, when rotated clockwise, returns to observation four compositions:
Prelude. Concord. Flow and Delivery.