23 de abril de 2012

SOMA



SOMA, pode ser entendido como o resultado da adição de várias quantidades, pode ser também uma bebida sagrada que os índios védicos derramavam sobre o fogo dos sacrifícios ou ainda significar simplesmente corpo (em oposição ao espírito). Sic, Dicionário Domingos Barreira, 1947. Para além dessas definições exactas, há toda uma áurea que semanticamente percorre e interliga os dois pólos do ser: o corpo e o espírito, e sobre os quais separados e juntos estes dois sentidos complementares e dissociados convivem e fustigam os estados anímicos de um e outro. Num dos prismas, sofre o soma com o psi, quando a depressão, a ansiedade, a tragédia, o cansaço, o stress ou a frustração corroem a alma até que na incapacidade da sua compreensão, figuração ou repulsa na aceitação concreta ou abstracta, os inevitáveis efeitos psico-somáticos se manifestam. E tudo se torna mais sério quando não houver por perto um xamã, um templo, um catalisador, uma força apaziguadora; um canto, alguém, qualquer coisa que trate o corpo com o espírito, e possa levar para a frente, sempre en avant a fé de ser. A atitude das pessoas perante as coisas públicas e privadas há-de sempre influenciar o soma e a sua vida. Nesta exposição há uma soma de olhares e reflexos e interpretações proporcionadas por um quente mês de Abril de 2012, em Luanda, com pouca chuva, no centro da Urbe, onde as energias e os destinos cruzados de múltiplas pessoas geraram das entranhas do seu soma um movimento multidisciplinar.

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Algumas das obras da série Lua Anda em exposição no Elinga Triatro.





O Primeiro Canto


O gosto pela escrita e a paixão pela energia da caligrafia do graffiti levaram-me a esta estética que consiste na sobreposição de mensagens, desejos e impulsos até á impossibilidade da sua leitura e compreensão. A sua interpretação passa para um outro nível que ultrapassa a racionalidade.
Esta obra foi a primeira a ser pintada no espaço Elinga. Como uma abertura para o início de um longo processo expressei os meus desejos e intensões para levar a cabo este projecto. Aqui está expressa toda a base do projecto SOMA ainda antes de ter sido baptizado mas como num zapping em frente de uma TV com 500 canais... está lá tudo, mas acabamos por não ver nada. Ou não.





Imangolã II




Elefante De Memória

Memória visual. Mamífero. Animal. Instinto. Desenho. Reprodução. Património. Extinção. Não! Evolução. Liberdade. Natureza. Criação.
Um logo. Um simbolo. Um (?) elefante.. e um expresso desejo de que animais  selvagens não fiquem encarcerados em Zoos. Os parques naturais e a vida selvagem são património universal e um bem a preservar para as gerações futuras.




União

12 de Abril de 2012, 01:03. O primeiro momento de pintura nesta sala integrou os vários elementos, olhares e expressões de todos os que com o seu trabalho e energia seriam necessários para tornar esta exposição uma realidade. O preenchimento foi efectuado ao longo de todo o processo de montagem. Esta obra está perto da sua conclusão mas todos os que contribuiram para tornar este sonho uma realidade estão desde já de parabéns.
A todos sem excepção: MuitObrigado!!!



Positicidade

Intensa procura de uma boa razão que justifica-se levar a cabo um projecto chamado SOMA na cidade de Luanda.
Resposta: Positividade, Tu Nu Tambor.




The Dancers II


The Dancers II consiste na evolução de um conceito realizado em 2011 numa tela de 90x90. No seu arranque decidi pintar uma tela integralmente de preto para perceber o que me sugestionava e qual a solução que encontraria confrontado com essa base. Sem compromisso comecei o preenchimento desenhando corpos a tinta de esmalte preta. Corpos que interagiam entre si, corpos que se contagiavam pelo toque, pela visão, pelos seus pontos de apoio, pela sua integração no todo da composição. Depois de algumas horas de trabalho percebi para minha surpresa que tinha nascido ocasionalmente um conceito; The Dancers é uma metáfora gráfica do universo artístico onde a análise de trabalho e vida influenciam interpretações artísticas, resultando todos eles numa posição complexa, detalhada e individualizada mas em equilíbrio. The Dancers são um paralelismo de uma segurança social, apoiando-nos, dando e recebendo sem olhar a posição ou composição é possível num belo dia encontrar um perfeito equilíbrio e harmonia seja qual for o local ou ângulo do quadro. Que roda.





100 Titulo



Futuro

No dia 13 de Abril uma forte ventania que antecedeu uma tempestade tropical que afogou a baixa da cidade arrancou a estrutura que tapava uma das janelas do salão. Um momento que se revelou fundamental para a reutilização de uma estrutura e para a concepção espontânea de uma obra de grande formato.
Algo nasceu, algo está ainda por nascer, e Algo nascerá. Eu, tu, nós, voz e eles.




O Erro III






Dupla Face



Face Dupla

2 escalas, 2 visões, 2 opções, 2 técnicas, 2 momentos, 2 pessoas, 2 sexos, 
2 viagens, 2 desenhos, 2 realidades, 1 reflexo e infinitas livres interpretações.



Silêncio

Silêncio consiste na única tela transportada comigo de Lisboa.
A sua concepção resume o sentimento da ansiedade e da antecipação da chegada. De um reencontro.
Conceptualmente, será terminada aqui. Como? É ainda uma incógnita.

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Nas fotografias: Melmara Faustino e Maya. A elas e ao pintor e arquitecto Nelson Faustino, o pai babado, o meu agradecimento por mais uma visita e incondicional apoio.

A Exposição SOMA. Lua Anda Reflex, estará patente até ao próximo dia 5 Maio no Salão do Teatro Elinga onde estarei diariamente a trabalhar para que no dia do seu encerramento... nasça outra coisa. Até lá.

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A minha ligação ao Elinga Teatro teve início um 2008 e prolongou-se durante dois anos, período este onde trabalhei na área audiovisual. Desde o primeiro momento em que entrei no edifício do Elinga Teatro que me senti em casa. Pela histórica beleza e genuinidade do edifício, pela sua honestidade em detrimento da ausência de pretensões, mas acima de tudo, pela dinâmica cultural que se sentia. E sente. Imediatamente me apercebi que, para além das animadas, e sempre bem sonorizadas noites, o espaço tinha a sua activa companhia de teatro, e tinha outras companhias que também ensaiavam, tinha uma companhia de bailado contemporâneo, tinha uma programação de concertos, recebia e apadrinhava projectos, era ponto de encontro de escritores e poetas, de criativos e de pintores que muitas vezes utilizavam o espaço para trabalhar e em alguns casos até mesmo para viver. Em suma, o Elinga era um caldeirão onde todos os dias fervilhavam projectos, se debatia, se criavam sinergias, soluções e oportunidades de vivência criativa. Toda esta energia e actividades no mesmo local tornaram-no no meu local de eleição em Luanda. Desta feita, e depois de conversas, conhecimentos, reconhecimentos e necessidades, fui impelido a dar uma resposta artística em reacção ao fantasma que condenava o edifício a uma demolição eminente (ainda cheguei a conhecer o largo antigo). A resposta consistiu numa intervenção foto gráfica (Miss Saluvo) que até hoje se mantém na sala de entrada. Em 2009 foi realizada uma exposição com vários artistas Angolanos a que dê-mos o nome de Colect I.V.A. (Imposto sobre o Valor Artístico).

Ao ano de 2008 e antes de vir para Angola, eu já tinha realizado três exposições em Portugal. Naquela fase, um dos objectivos da minha vinda era poder reunir condições para continuar a lutar pelo sonho de profissionalmente conseguir viver condignamente enquanto artista plástico. No entanto, Angola foi o local onde estive mais tempo longe de casa, mas também onde tive a mais consistente evolução profissional mas sobretudo humana. Durante esse período de um ano algo nasceu. Foi aqui que comecei a fazer os meus primeiros desenhos, ilustrações e estudos. Descobri o desenho como forma muito directa e fidedigna de expressão, bem como suporte directo para a pintura. O caderno que trouxe nessa altura voltou praticamente completo com muitas horas de desenhos, imensas ideias e um desejo expresso de voltar um dia com o objectivo de efectuar uma mostra de trabalho e prestar um tributo ao local onde outra semente começou a germinar.

Três anos passaram voando. Um ciclo que se revelou a mais intensa e prolífera fase de criação que já vivi. O estudo do desenho continuou, a pintura veio a revelar-se uma necessidade eminente e impôs-se como a minha forma de estar na vida com o profissionalismo e responsabilidade que jamais qualquer outra ocupação me exigiu. Apesar disso e durante este período não efectuei nenhum momento expositivo individual embora tenha desenvolvido e abraçado diversos projectos directamente ligados a produção cultural artística, nomeadamente com o meu actual colectivo de pintura: Galeria Nómada. Os saltos da vida, as mudanças no meu país, os projectos funcionais, a energia para encontrar e limpar espaços de atelier, a vida pessoal e a ausência de oportunidades efectivamente interessantes de expor individualmente em Portugal não permitiram que acontecesse. Não tinha de ser, logo não aconteceu.
Hoje e em Luanda, sentado na sala onde tudo começou estou a braços com o projecto de finalmente tornar um sonho numa realidade: efectuar uma mostra de trabalho individual onde vou pela primeira vez reunir numa só sala as várias técnicas, conteúdos e estéticas que tenho trabalhado, bem como, voltar a desenvolver o conceito Colect IVA colaborando com vários artistas plásticos angolanos. A tarefa não é fácil porque todo o material exposto é made in Angola, nada foi “importado”, e respeitando isso, naturalmente esperam-me dias de furiosa produção mas também de muita alegria e aprendizagem. Estão finalmente reunidas todas as condições para que seja uma realidade porque o Movimento X, bem como toda a equipa do Elinga Teatro, têm sido incansáveis no seu apoio e compreensão para que juntos seja possível levar este barco a um bom porto. É uma SOMA de sonhos, de visões e experiências, de pessoas que querem fazer mais e conscientemente por um futuro melhor.
Viva o Teatro, longa vida ao Elinga, viva a Arte, viva a Vida!

Elinga Teatro, Luanda, 18 de Março de 2012

22 de abril de 2012




Avenida Rainha Jinga.
Ontem.

12 de abril de 2012

Cabo Leda




Lua Anda
Março. 2012

7 de abril de 2012

Cardume Camanga



As mais preciosas coisas desta vida vêm em pares. E nascem conosco. Somos nós o milagre sem preço. A mais pura camanga és tu, nós e eles. Vimos e vemos a este plano como a mais pura gema. O brilho, toda a luz, só depende da lapidação que fazemos ao longo da viagem.



Luanda. 
Amanhã.

2 de abril de 2012

the tick is tacking ...



240



Procura. Frontalidade. Encontro.
Renascimento.