13 de outubro de 2015

Luaty Beirão


Este processo não foi fácil. Este processo transformou-me profundamente. Este trabalho não está aqui para ser comparado ou avaliado, porque teve de ser e foi o que quis ser sem mentalidade, prisões ou imposições. É livre. Um trabalho que serve essencialmente para chamar a atenção para o atentado, leia-se dissimulado antecipado maquiavélico, contra os direitos humanos. O Luaty Beirão está a cada momento numa entrega consciente a entregar a sua vida. Vai deixar uma filha. Uma menina que crescerá num mundo onde ele acredita poder ser um lugar melhor. Muito melhor. Por isso sonhou. Por isso lutou. Por isso foi preso.
Cansa continuar a ouvir a palavra activista tão parecida com terrorista e todos os istas que nos vão levando na corrente.
Sei que estou a jogar o jogo que alguém tão bem antecipou. Não existe inocência neste processo. Existem muitos culpados, talvez sejamos todos um bocado por tão eficazes na digestão de informação que nos tornamos. Vale tudo, passa, foi. Talvez agora isso pouco importe. Talvez seja hora de por de parte os talvez. Os silêncios envergonhados. Os outra coisa apadrinhados. Os não vi passou-me ao lado. Os não posso estou esquematizado. Como eu mesmo fiz. Vou fazendo, escondendo aflito refugiado protegido. Enganado.
Se conheci o Luaty? Não não o conheci pessoalmente. Conheço muitas, imensas pessoas com quem aprendi, amei, construí, ouvi, ri, bebi, cresci e dancei que o conhecem (como tu). E agora vejo chorar, ou nada dizer. Não subestimo, não há rancor, fiz o mesmo. Não faço mais. Porque, se existe razão que encontro antes de outra qualquer para que um homem como a inteligência e talento do Luaty se entregue à morte, é um desejo de um momento, um momento connosco, sem ruídos nem afastamentos, bem fundo, cá dentro em que nos questionemos realmente: Porquê? Porquê? E o que podemos fazer ou não fazer.
Revejo-me no Luaty. Meditando enquanto trabalhava conclui que faria o mesmo. Que outra opção? Preso? Um espírito livre? Preso? Por louco que possa parecer não é. A libertação do espírito do seu desejo, do seu sonho é o que está a fazer sejam quais forem os meios para o demover. E toca, toca-me muito. Mas atenção, existe quem o saiba muito bem mas continua. Continua persistente, ignorante, prepotente, alienado a querer ficar na história nem que seja com as mãos sujas. De sangue, porque balas são dólares, e dólares são petróleo e petróleo é a dívida que quantas mais gerações vão ter de pagar no Mundo inteiro?
Solar! Por Deus! Concórdia! Perdão!Aceitação! Equidade e Recomeço! Humanidade 2.0!
Não sei o que é melhor. Não sei o que é o pior. Julgo que como tantos estamos presos num não lugar. Sobrevivemos e bonitinhos vamos "vivendo". E cá dentro? Onde estamos? Para onde vamos? O que somos realmente? Tem mesmo de ser assim?
O mundo como o conhecemos está a desabar. É óbvio que nos estão a encomendar conflitos e mais conflitos porque alguém se tem de armar, outro alguém providenciar e outros, muitos, de morrer porque não têm outra hipótese? E a tecnologia? E o avanço da ciência? E nós até Marte para quê? Vamos canibalizar-nos até à pedra?? Não sei. Mas sei que assim não é o caminho. Talvez tenhamos entrado finalmente na fase dos porquês depois de termos aprendido a falar. -Porquê Papá, porquê Mama? Talvez se juntarmos todas as perguntas sem querer levar mais rápido, saber mais, mais campeão, mais vencedor, mais merda, mais nada, consigamos encontrar as respostas. O espírito de competição que nos enfiam desde o colo está a levar tudo para o fundo nesse sorriso idiota de quem avalia tão seguro quanto um meteorito em rota de colisão. Pão!
La Belle Verte. Utopia. Um dia. Novo Dia.
O Luaty Beirão passou a ser parte da minha vida. Um marco. Um exemplo. Uma referência que não me permitirei nunca esquecer seja qual for o seu tão nobre, tão Real destino, porque épico meu amor... é acordar!
Tenham um dia, mais um dia. Um Bom Dia.




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