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Sonhos tépidos, coloridos por um silêncio abstracto.
Sequências de palavras encarriladas por rimas que me despertam de um sono tão necessário.
Suspiros encontrados na distancia de um encontro que me apazigua.
A cadência melódica de um mantra por compreender.
O café duplo e um queque que justificam a ardência de um cigarro.
Uma folha em branco mármore que casa com a vontade sem o desejo de preenchimento.
O desenho reencontro da caligrafia que me leva. Linhas como ondas de te ver no descobrir desfolhado dos mistérios do sentir.
Assobio a leveza de me descobrir na corrente de um dessaguar imprevisto, improviso.
Só, movimento-me e espero no inesperado que se sedimenta no fundo de um lago onde habitam carpas e nenufares alheios ao instante da leitura. Da sua inocente existência emana a beleza irradiada na cintilância das águas que se agitam.
A voz cristalina de uma criança, uma montanha com socalcos, uma oração e o vento na copa dos plátanos, agora.
Observa-me a fotografia envelhecida de um piano empoeirado de memórias por tocar. Cada nota, cada acorde, cada silêncio diluído na partitura arranhada pela pena da idade. Tenho asas num corpo inteiro, frugal alquimia, alimento. Monumento.
Sabes meu bem, não se ganha a um espelho que não concorre. O ganho és tu na expansão estruturada da vida tão maior que nosotros. O infinito pulsar, o desenho por fazer que se desvenda no respiro de quem se põem a jeito de entender o medo.
O essencial fruta humildade na coerente vontade de cada ramo que brota do tronco que continua a raiz. Tem doçura nisto de que pensar as árvores que foram semente, noutro tempo, noutro estar. Elementar.
No reconhecimento dos opostos, transcendência é sinónimo de vida e dança-lo no calor da verdade disponível, a liberta liberdade servida na tua entrega, por, com e pelo amor a banhos numa segunda-feira de Sol.
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a
"As coisas avançam devagar. Tenho no bolso a ponta de um lápis.
Qual o desafio? Escrever alguma coisa que possa comunicar a vários níveis, como um parábola, isenta do estigma de astúcia.
Qual o sonho? Escrever alguma coisa sublime, que seja melhor do que eu e que justifique as minhas provações e os meus erros. Oferecer uma prova, através de uma determinada maneira de usar as palavras, de que Deus existe.
Porque escrevo? O meu dedo como um estilete, desenha no ar um ponto de interrogação. Uma obsessão familiar de que me lembro desde criança quando me retirava das brincadeiras e do convívio com os amigos e me afastava da eventuais delícias do amor para ficar cercada de palavras e dominada por uma pulsão que me era externa.
Porque escrevemos?, pergunta em uníssono o grande coro de quem escreve.
Porque não nos podemos limitar a viver".
Patti Smith
in Devotion
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Vivemos tempos gloriosos, de profunda transformação individual e colectiva. Tempos que confrontam o coração e condicionam a acção da Humanidade em clara evolução. Felizes os contemplados com o privilégio de poderem Ser, o que aqui vieram fazer. Na manifestação da sua alegria a revolução de todas as floras e faunas.
Somos soma da força de criação da Mãe e a consciência do Pai. A unificação manifesta do Amor enquanto consciência divina da criação por muito plástico que uses, fales ou cantes.
Reconhecer e abraçar as polaridades do Ser é caminho para a revelação do propósito de cada um num todo integrado em harmonia. No reconhecimento da oposição de forças, superação é sinónimo de vida e dança-lo no calor da verdade disponível, a liberta liberdade que já não pode esperar.
O amor sana e fruindo liberto, unifica-nos.
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Maio 2024
Acrílica sobre cartão
70x50cm
Aos 4 dias de formação presencial fechei cada dia neste trabalho. Único e irreversível como a entrega, o cuidado e o sentido de responsabilidade da Cátia Leitão. A compreensão e integração das polaridades que nos integram são um caminho. Para a Liberdade.
The conversation that never took place
serie: Co-criando com Clara (o pássaro amigo)
Acrilica sobre tampo PVC reciclado
59x59 cm
Verão na Casa Curação de Ambrósia. Olhando o retrato senti que o pintaria. Esse sentir acabou por declinar na encomenda de, com liberdade, o pintar. Durante a pintura desse quadro, fiz 3 estudos que acabariam por ser a base de um segundo quadro.
Durante o processo considerei o amor, amor entre homem e mulher, emanência e recepção, matéria e espírito, dualidade e a integração da mesma num relacionamento entre dois seres em continuo reconhecimento. Dois amigos, dois irmãos, dois amantes.
A análise do arcano maior Amantes no decorrer do processo viria a ser um momento chave no desenvolvimento e reinterpretação da pintura.
Lá em cima, Marte e Vénus, depois de um largo período de afastamento e aproximação reencontraram-se em complemento.
Fernando & Joana
Óleo sobre contraplacado marítimo. 34,5x59
Série Mimos de Ambrósia. 2023
Esboço 3. Caderno 9
Blood of Eden
Óleo e acrílica sobre canvas panel Phoenix (E5310). 35x45cm
Série Mimos de Ambrósia. 2024
Estou onde tenho de estar.
Permito-me um atravessar por outras pontes que levam á montanha. Serviço.
…e este sentimento de morte num corpo activado, amado e desejado é o despontar da semente germinando em solo fértil, por isso sagrado.
Sinfonia de pássaros num claustro.
Cheiro de laranja e nêsperas a amadurecer.
Ardem velas num altar.
Num reflexo demorado no olhar de alguém, o vento nas copas do cabelo sopra o nascimento do momento de um parto sem dor que no meu peito segreda:
- chegas-te a casa, não tenhas medo, o que antes era medonho,
meus amores, é um sonho.
Estou onde tenho de estar...
permito-me a dançar humildade com vagar...
Água de rosas, algodão em rama.
Hoje acordei de novo como bóia amarrada no bombordo das palavras por conter.
Não contenhas. Numa parede por caiar, li um dia que conter é verbo alagado de nós e nãos e nadas e portas batidas fechadas no trinco, que só se abrem com cuidar.
Cho co la te. Cho co la te. Navegava num mar de cho co la te quando na minha mão a vi dizer inteira:
- “A poesia, vai salvar o mundo”. Retorceu na sua língua um esperanto tsunami que tudo levou por ser crente cardíaco compulsivo e calvo. Fiquei à deriva.
Sem alternativa, achei que morria, mas Boca-a-boca, fui resgatado por um tapete voante de retalhos feito por canetas de tinta de choco pescado á candela nas noites temperadas do verão.
Esfarrapado pela intempérie de Hollywood, fui encontrado pela meia maré a encher numa praia postal com pocinhas de concha mimadas pela dança das algas que te ofereci. Sem redundâncias nem pesos por pesar.
Ai, nessa costa lá, apareceu. Corpo nú e delgado, um pedaço de palmeira na mão e carregando o som do marulhar de todas as ondas, um homem. Apareceu.
Deu-me água de coco, um abraço e a companhia silenciosa de todas as catedrais. E desapareceu dali ficando aqui, de onde nunca mais saiu.
Água de rosas, algodão em rama, um momento tão absurdo quanto um mundo com fronteiras e contentores. Naufragado.