16 de abril de 2014

Sé. Segundo acto

Três páginas arrancadas por contracção, mão presa, densidade de negação, ausência, decréscimo. Não saber. Contracção sem resposta de válida ou construtiva reacção. Densidade. Alfama, Sé. Retoma Tejo de luz sem da luz me aperceber. Densidade. De nada espelhar. Entrega, procura desconstrução. Flip flops em solidão. Descentralização, indecisão. Desvio de controle de matéria. Inteligível, corrigível, permutável. Desconteúdo folgado, medida por medir exteriorizada. Nada.
Acréscimo de pouco saber pela ausente resolução. Expiação, armadilha, desfloração. Desencontro e solidão. Submissão, descontinuada sobreposição. Atulhar. Soterrado por omissão. Medo e indecisão. Casca grossa. Protecção.
Doutrina nasal, assassina. Afastada resina desbotada de amor. Presa fácil andorinha. Vôo, vôo, vôo na certeza lembrada de não o conseguir fazer. Vazio turpor. Rasgado sem mutação, âncora, raiz ou leme. Regalado rodeado da proporção alheia dada tenaz. Inexistente tentativa de acordo por nivelar. Distancia. Embriaguez adúltera assalto ingrato desmedido. Descontrolado na acutilância. Telecomando. Actor não identificado. Cansado. Na confirmação e sempre dado. Partilhado, estilhaçado. Descordenado, cordeiro levado. Constatação, atracção de negatividade sem filtro. Desenraizamento assente nas externas leituras desafinadas na cirúrgica ilusão da impotente castração. Sobreposição da soma de leituras emocionais, visuais e humanas no momento  do  sossego conseguido de cada topo em conquista por dádiva. Acusação, auto-flagelação, imputação por frágil constatação. Ciúme, aversão. Mongólias ilusão? Acréscimo fantoche sem designação de um plano calculado treinado, ensaiado. Trabalhado. Borrado.
Tremenda dificuldade de aceitação de mim mesmo. A ressaca passageira de não articular bom dia. Bom dia, bom dia. Bom dia será? Estranho em mim. Estranha fórmula de vida. Incongruente capacitação num único fatal plano de concepção. De tão forte esvazia. Cataliza e come. Amassa pela eloquência. Fere pela certeza. Certezas esvoaçantes assentam em maturadas estruturas anti-sismo. Não posso em mais uma insónia de toque de sino lamber feridas. Lamber seja o que seja. Não rima com insano, insegurança da forçada fuçada composição que não dança nas realidades fragilizadas que invento. Só mais só Eu fico. Vitimizo-me sem qualquer conforto receber. Tenho fome na correria de encontro a um prazer que não vem, não sustem, nada tem de além além de mim rodeado num emaranhado de portas que não se abrem. E como poderiam ter aberto perante a constatação de todos os impulsos em vão? Incompreendido sou um não. Desconseguido desfragmentado, tão fingido de-simulado, quase anulado. Encerro o trauma de uma loucura que deixa rasto de caracol simplificado. Mergulhar num limbo desmesurado de onde lodo sem nado.
Culpas e maus tratos reactivados. Raiva poluente. Ira inconsequente.
Cocaína desafina. Satisfeita insatisfação que domina na certeza de uma luta que se aproxima. Onde anda o meu farol? Será que alumia? É urgente a saída, fundamental é a chegada ao porto confia. Linha.
Tenho a fome de um amor ausente perdido na dor da imaginação de um ciúme trepador.
Haverá algo mais que possa deixar sair até soterrar? Há superfície? Haverá chegar? Pobre de mim. Vitima de mim porquê?
Sinto o peso da partida que transmiti olvidado na altitude do ventre materno onde tudo pode ser e é dado a ver. A doer por vir a ser. Integrar compreender. Antes de fazer nunca será ver. Antes depois. Tudo ou nada, sobra o tudo.
Desvendo, desventro, vento vi, ando, transformo: é coxo, é pouco sobremudo.
Poder voltar é assimilar para estruturar.
A paz e a calma desassossegam-me na eminência de uma necessidade que voraz-mente ultrapasso na dinâmica de sobrevivente acordado que me resta nos despojos de uma passada sem direcção.
Tudo o que vivi, escrevi, analisei, estudei ou senti não veio desta vez por ti. Ocupado enamorado devorado descentrado fiquei só, desenraizado. Maturado e com carga de profundidade amarrada, fui avisado, em baleia transformado, congregado e num livre acesso libertado.
Não posso, não sei, não consigo, nem quero pré-assumir sequer que assumi que a queda de um anjo seria somente a semente que desconfiei poder ser. Sabendo-o, saboreio-o agora. Confirmo-o profundamente como uma broca furando um ventre.
Desenrolho-me na luz da cidade que me viu nascer. E se o arrependimento amamenta-se? Mamo tudo o que nesta distancia deixei mal feito. Despeito vitórias que agora longe sabem a sangue, a solidão implodida em fragmentos de erros rearranja-dos em frágeis franjas rocócó. Pela fome insaciável dos outros que nem vêem. Intrínseca masturbação de um joguete brilhando de toda a merda que vim trazendo. Trazendo nas costas passado se avança para nenhum lado. Quadrilátero embruteci na ausência de presentes memórias do que vivi.
Esfrego-me neste chão, mordo-me contorço-me antes de ir. Espanca-me o medo de querer terminar com todo o sofrimento que cobarde quero deixar para trás. Nada mais a  fazer, tudo feito. Lento leito de uma sobrecarga tão presente quanto inaudível por mastigada nos molares de uma consciência fustigada. Detalhadamente manipulada.
Sôfrego, detesto, desdigo a caligrafia enjaulada retorcida salteada. E suja sem leitura segue sem que compreenda, que este é, depois de lavado, o primeiro dia do resto de um plano sem vida.


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15 4 2014

Texto para o segundo acto do monólogo encenado "Operação Vim Ver".


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