1 de março de 2007

the BIG FISH



Porto.
5 5 2006
13:02

2 comentários:

Devir disse...

Todo o contador de histórias é um inconformista, alguém que não está disposto a calar e recalcar os seus desejos mais fantasiosos e quiméricos, alguém que não quer ver a sua alma coagida, normalizada e limitada na sua riqueza e nas suas mais inéditas e imprevistas potencialidades ao ponto de essa mesma alma ser forçada a cumprir normas de uma suposta sanidade e deixar de ser alma. Seríamos mesmo tentados a dizer que todo o homem é um contador de histórias e um criador de mitos, e quem não fantasia sobre a sua vida e a dos outros, quem não possuir uma certa propensão para a auto-mitificação, não é inteiramente uma pessoa, ou será, decerto, um pouco desalmada. O homem, neste sentido, "desalmado" detesta histórias e fantasias, vive, vive num permanente escrúpulo do "real" e da "verdade", é um perfeito conformista na sua forma de reverenciar e se subjugar apenas aos factos concretos, situáveis e prováveis, e gosta normalmente de apelidar aqueles que se afastam de uma pretensa objectividade dos factos e das coisas de "mistificadores", "esticados", anti-científicos", "mitomaníacos" ou mesmo "tão-mentirosos…". Para o homem desalmado, a verdade é o que se vê, o que é tangível, sensível, adquirível e de preferência noticiado nos media - vive colado a uma realidade exterior e na sua aparência carece de um mundo interior próprio, de uma verdade subjectiva, porque detesta o subjectivismo e, sobretudo, a inevitável e por vezes dolorosa tensão entre a verdade do interior e a do exterior. Com efeito, integro-me assumidamente, e com algum orgulho, no lado subjectivo da questão. Sou a antítese do homem desalmado, recuso-me compulsivamente a ser fiel àquilo a que penso ser "uma insípida sucessão dos factos", ou seja, à cinzenta e monótona objectividade dos factos geralmente demasiado prosaicos de que é feita a uma vida.
Talvez esta inverterada tendência para o exagero da realidade e para a obstinada automítificação seja sintoma de uma personalidade excessivamente narcísica e egocêntrica, demasiado preocupada com a sua imagem e com o desenvolvimento de histórias maravilhosas e mitos que me sobrevivem e eternizam a alma. Crer essencialmente que a minha alma, através da imaginação e criatividade se enche das histórias da minha vida (onde sou quase sempre o centro das atenções) talvez como forma de compensar com beleza, humor, grandeza e eventualmente fealdade a pequenez da vida real, talvez para impressionar os outros ou apenas pelo prazer de abusar da sua capacidade de crença pondo em risco a minha credibilidade. Tanto posso ser visto como um mentiroso compulsivo ou um mitomaníaco que foge patologicamente do real como uma alma poética e criativa, ou alguém com uma vocação pretensamente artística quem sabe nunca convenientemente realizada. Alguém que transfigura, reinventa e subjectiva o real para o poder suportar. Mas, não terás tu também um pouco de mentiroso e neurótico? Se tens, sê bem vindo! Caso contrário, e se cumpres obsessiva e obedientemente as mais respeitáveis e assépticas regras de conduta e normas de sanidade mental - paradoxalmente, não será isso também um sintoma de doença (muito) grave?


Base de texto concebida por autor desconhecido dado todo o tempo que passou. Reescrevi-o de um jornal ou revista e adaptei durante o processo de cópia. Contudo, foi desenvolvido enquanto critica para o filme Big Fish de Tim Burton. É a única coisa de que me lembro. Se alguém souber quem foi. PFF que se acuse!

K disse...

Ah cabrão que utilizaste esta foto! Mas ok, estás perdoado, que eu sou uma alma gentil, e a verdade é que gosto mais desta tua fotografia ;p

(sim querido, o texto a determinada altura assenta-te que nem uma luva...eu diria que nem tanto ao mar nem tanto à terra...por alguma razão se costuma dizer que no meio é que está a virtude...chegar ao equilíbrio é que é o verdadeiro desafio de vida. digo eu)