Carta
a quem quer mergulhar nas práticas com o cem-centro em movimento na
temporada que começa em outubro de 2020 (diving in body, movement and
the common practices with cem, scroll down for english, a foto é
garganta-pátio):
em
cada outubro temos mergulhado na temporada de práticas de existência a
que chamámos investigação artística nos estudos do corpo, do movimento e
do comum.
desconfio que aquilo
que fazemos é sempre aprendendo o que possa ser essa potência de
existir para além de sobreviver ou “funcionar” e o que possa ser a
possibilidade de corpos não só humanos viverem lado a lado co-tecendo
mundo.
fomos dando nomes às coisas enquanto exercício também de
considerar a especificidade de cada uma na diferença das coisas iguais,
por exemplo:
o risco da dança apura o gesto que cada umaum traz
ao aparecer seja com que forma ele se fizer presente... dança, escrita,
fala, pensamento....no risco da dança praticamos a perícia do artesão da
arte-existência.
a fia considera o tecer-fiar que o entre-corpos
gera criando malhas de tensegridade que nutrem o ser-com afinando a
justeza interna de cada fio nessa ressonância do comum, exercitando o
não-saber.
a sopa é um exercício de cozinhar em comum
(literalmente) uma sopa que alimenta (literalmente) cada umaum
praticando a cada momento não planear, libertar o fazer dos porques e
paras, considerar o rigor de cada gesto no co-fazer acontecer, escutar
as ondas de navegação que a atmosfera gerada pelo lado a lado vai
criando e como essa atmosfera influi (literalmente) no sabor da sopa,
abrir o coração à co-existência do útil e do inútil trazendo ao mesmo
sentir cortar cenouras, separar feijões, cantar, lavar a loiça, dançar,
escrever, sem julgamentos de valor nem cristalização de hierarquias de
prioridades.
a demora dedica-se ao desaprisionar do tempo, abre a
prática de estar-com demoradamente, deixando aparecer um corpo-mundo
que acompanha a geração de consistências, de caminhos, de gestos, de
pensamentos, de afectos sem se aprisionar na produção de algo e
acolhendo a co-existência de universos visíveis/invisíveis,
tangíveis/intangíveis, materiais/imateriais.
o pedras, práticas
com pessoas e lugares dedica-se ao estarcom qualquer acontecimento,
qualquer lugar, qualquer corpo, qualquer contexto, exercitando a
confiança em ir sendo, estando, fazendo-com. não existem “condições
ideais” e os limites do que o corpo-qualquer pode tornam-se
surpreendentemente elásticos. o pedras pergunta especificamente sobre a
geração de cidade, e conta-nos histórias de como a capacidade de escuta
sem julgamento destapa cidades que não aparecem numa primeira camada.
o
pátio é um acontecimento performativo que escuta o retorno do mundo na
relação com o co-acontecer de quem se ajunta fazendo o que está a fazer,
sendo o que está a ser, elasticando a membrana da alteridade e
desfazendo as leis esclerosadas do “espectar”, da comunicação, da
arte-agora.
o espaço experimental é um encontro que pratica a
comunicação de qualquer processo de criação/documentação exercitando o
atrevimento de experimentar, o erro, o feedback, e a dissolução da
vaidade do artista.
na temporada passada desfocámos os limites
dos programas de investigação “risco da dança”, “fia” e “demora”,
confiando que a especificidade de cada abordagem poderia nascer do
próprio encontro com quem vem ao encontro e não tanto de uma
calendarização prévia....parecia que já estávamos prevendo a situação
pan-démica que agora vivemos, chamámos-lhe tempo de mergulho.
para
esta temporada a exigência da qualidade do encontro, o rigor da forma
como cada umaum encontra em si o desejo de estarcom as práticas do cem,
ainda se apurou mais.
cada vez é mais evidente que não podemos-queremos convidar ninguém que não se convide a si própria.
a concretude da caminhada que faremos lado a lado assumirá as formas mais adequadas pensadas-sentidas-discutidas em cada momento.
com
certeza que a co-presença em corpo físico terá as suas alterações mas o
rigor de cada passo será, como sempre tem sido, afinado no próprio
caminhar.
há já alguns anos que
exercitamos a proximidade-distância nutrindo as interafectações que vão
desenhando o aprender-ensinar-pensar-partilhar que cada ano desenham a viagem.
até
no pagamento do trabalho com o cem convidamos a que cada umaum se mova,
faça uma reflexão, consulte os preços que praticávamos antes desta
pan-demia (cerca de 200 euros/mês), analise a sua situação e a justeza
da sua contribuição financeira, e faça uma proposta.
o futuro é agora agora agora.
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letter to those who want to dive with the c.e.m-centro em movimento in the season that begins in October 2020:
every
october we have plunged into the season with practices of existence
that we call artistic research in the studies of the body, movement and
the common.
I suspect that what we do is always learning what this
potency of existence may be beyond surviving or “functioning” and what
can be the possibility of considering forms of vibration, not only
humans, living side by side co-weaving the world.
we gave names to things while also exercising the specificity of each one in the difference of things alike, for example:
the
risk of the dancing refines the gesture that each one brings into
appearance in whatever form it is presented ... dance, writing, speech,
thought .... in the risk of dancing we practice the skill of the artisan
of art-existence.
the fia considers the weaving-spinning that
the inter-bodies generate creating meshes of tensegrity that nourish the
being-with, fine-tuning the inner fairness of each thread in this
resonance of the common, exercising not-knowing.
the soup is an
exercise in cooking in common (literally) a soup that feeds (literally)
each one practicing at every moment not planning, freeing the doing of
the whys and what fors, considering the rigor of each gesture in the
co-making happen, listening to the waves of navigation that the
atmosphere generated by the side by side creates and how this atmosphere
influences (literally) the flavor of the soup, opening the heart to the
coexistence of the useful and the useless, bringing at the same time
the feeling of cutting carrots, separating beans, singing, washing the
dishes, dancing, writing, without judgments of value or crystallization
of hierarchies of priorities.
demora is dedicated to the
un-imprisonment of time, invites the practice of being-with in open
time, allowing the appearance of a body-world that accompanies the
generation of consistencies, paths, gestures, thoughts, affections
without being imprisoned in the production of something and welcoming
the co-existence of visible / invisible, tangible / intangible, material
/ immaterial universes.
pedras, practices with people and
places, is dedicated to being with any event, any place, any body, any
context, exercising confidence in continuously being, thinking and
doing-with. there are no “ideal conditions” and the limits of what
anybody-thing can become is surprisingly elastic. Pedras asks
specifically about the generation of the city, and tells us stories of
how the ability to listen without judgment uncovers cities that do not
appear in the first layer.
pátio is a performative event that
listens to the return of the world in relation to the co-happening of
those who come together doing what they are doing, being what they are
being, elasticizing the membrane of otherness and undoing the sclerotic
laws of “spectating” , of communication, of art-now.
the
experimental space is a meeting that practices the communication of any
creation / documentation process, exercising the audacity to experiment,
the error, the feedback, and the dissolution of the artist's vanity.
last
season we blurred the limits of the risk of dancing, fia and demora
research programs, trusting that the specificity of each approach could
be born from the very encounter with those who come to the meeting and
not so much from a previous schedule. ..it seemed that we were already
foreseeing the pan-demic situation that we now live in, we called it
time for diving.
for this season, the demand for the quality of
the meeting, the rigor of the way each one finds in themselves the
desire to be-with the practices of cem, is even more sharpened.
it is increasingly evident that we cannot/we don’t want to invite anyone who does not invite herself.
the
concreteness of the journey that we will take side-by-side will assume
the most appropriate forms thought-felt-discussed in each moment.
certainly
the co-presence in the physical body will have its changes but the
rigor of each step will, as it has always been, fine-tuned in the walk
itself. we have been exercising proximity-distance for some years now,
nurturing the inter-affectations that shape the learn-teach-think-share
that each year draw the journey.
even in what concerns paying for
the work with cem we invite each one to move, make a reflection, check
the prices we practiced before this pan-demia (about 200 euros / month),
analyze your situation and the fairness of your financial contribution ,
and make a proposal.
the future is now now now.