2 de julho de 2008

Futuro das paredes no Bairro Alto



"A ZDB acolhe um encontro informal de três dias no qual se vão trocar ideias sobre o estado actual das paredes do Bairro Alto, contando com a participação de interlocutores de áreas distintas.
A paisagem composta pelo tecido edificado do Bairro suscita várias reacções e interesse de moradores, comerciantes, transeuntes, artistas e investigadores. No primeiro fim-de-semana de Julho vamos ouvi-los, juntamente com alguns dos talentos do graffiti e street art da actualidade.
Pretende-se fomentar uma discussão alimentada de perspectivas e representações díspares sobre as paredes repletas de tags, graffitis, cartazes e autocolantes, que compõem um pastiche de informação e sinalética, indecifrável para a maioria, mas familiar para alguns".

in www.zedosbois.org

*****

Para a imagem deste post utilizei uma fotographia tirada em frente da Brasileira no dia 27 de Setembro de 2005 pelas 18:01. Estava assinada por Günter M e tinha o titulo: AD_Faust.
Não o conheci pessoalmente mas devo apareser por lá.

[...]

E acabei por NÃO aparecer.
Não fui. Não consegui ir. Não devo ter sido o único.
Mas ficou a necessidade de dar uma opinião que acabou por sair espontaneamente num mail para a Lígia. A Lígia é uma camarada de armas que moderou e esteve empenhada no acontecimento.

Comentem livremente. Ou fiquem caladinhos e não digam nadinha.
A opção é vossa.

****

"Lígia:
(...)Tentei ligar-te. Vi que me tentaste contactar. E isso é bom. Naturalmente gostava muito de falar contigo. Que me contasses como foi. Como correu. O que ficou dito e foi debatido. E qual a revisão da matéria dada. Pura curiosidade.
Não consegui aparecer. Na sexta projectei 6 horas de imagem. Um download considerável. E embebedei-me. Pelo que no sábado não só estava a ver cacilheiros na Afurada como ainda tinha indícios da gripe da moda. e morri. No domingo anhei depressivamente todo o santo dia. Estava cansado, sem energia. A história do Devirsuals tem qualquer coisa que se lhe diga. Sobretudo quando galopa. E corre bem. Correu.
Como sabes, tenho uma opinião sobre "O Futuro das paredes do Bairro Alto". Que é a seguinte:
Desde há uns séculos a esta parte, que o Bairro Alto tem uma história marginal. Putas, fados, marinheiros, muito vinho e absinto, muita gente e movimentos, muita prevaricação e arte. Da boa e á portuguesa. É conhecido por milhões de peregrinos de todo o mundo. É uma prevaricação conhecida. Atribuida a Lisboa, atribuida a um local muito enérgico no topo de uma colina solarenga de seu nome Bairro Alto. E continua a ser. Apesar de ter virado local da moda, de passagem, de conhecer e ser reconhecido, de moda, de alternativo, de fresco, de ponto de encontro, de fornecimento, de reencontro, de cultura, de acaso, de imagem, de tudo um pouco, continua a ser o que era mas com reflexos dos tempos que corremos. E correm tempos de liberdade de expressão. Por todo o mundo no tecido urbano reproduzem-se todos os dias centenas de trabalhos. Centenas de intervenções, milhares de tags. Nunca em momento algum da nossa curta história, tanta gente saiu para pintar. Se juntou e organizou com esse propósito. O de "vandalizar" uma renascença. Trata-se de um fenómeno que obviamente ultrapassa a nossa escala. E consequente o controlo. Por isso eu gosto tanto dele. Porque, quer se goste ou não, É genuinamente livre. É original. E sempre o reflexo, mesmo que idiota, da cabeça de alguém e para alguéms.
- "Há e tal... as fachadas estão um nojo, olha lá para isto". - Sim estão, e tu Olhas mesmo?! E o bairro é tipico como nenhum outro e há azuleijos com séculos fodidos, se não tiverem sido roubados, e muita degradação colorida e colada de fachadas. E desde os anos 80. Falo dos 80, porque desde essa altura que vou para o BA. Subia agarrado do lado de fora do elevador da Glória para poupar a guita da litrosa do Avião. Sempre esteve degradado. Mas agora, onde vivia a Mariquinhas é um restaurante "interessante" e com ementas em várias linguas. Cuja comida normalmente até é bem boa. Pó carote. E continuam com gente. Com rentabilidade. "E as paredes estão um nojo". Mas, a esplanada está cheia. E a parede é um nojo. Então, se as paredes nojentas não afujentam ninguém apesar de darem que falar. E mal. Afinal também faz parte. Já é assim. Cresceu adolescentemente assim. Impôs-se assim. Começou a fumar assim. E é incrivel. Tanta informação como em nenhum outro lado. Nunca, em lado algum vi um local como o Bairro. E nem os turistas viram. Eles que o digam, é o que dizem. É único por causa disso. É a sua patine. É a janela da vizinha com um "Sempre te amarei Ana e Amélia", três tags em português e mais dois na lingua que tu quiseres. O turista também afia o dedo. Arrisca sair e deixar também ele a sua marca enebriado pelo "assombrosso" contexto gráfico, seis vodkas e um charro. Acontece muito e temos muita estreia de escritura por ali. Quem sabe se continuaram a fazê-lo. Talvez sim, talvez não. Mas aqui ficou, e por vezes bem grande e a cores. Nos Açores, acho que no Faial, barcos de cada canto do mundo, normalmente registam a sua passagem com um desenho no cais. Uma marca de passagem. Acho que é o mesmo fenómeno mas... nem todos temos barco e no Bairro passa mais gente. Todos têm acesso ao marcador, á cola, á impressora e ao aerosol. E é assim, desde que o tempo é contado. Quando alguém precisa de algo. Outro alguém fornece. É normal. E muito nacional por sinal. E assim, muita gente se assinalou. E passa a estar representada no espaço público. E porque não? Se tudo está?! Mesmo tudo! Publicita-se tudo! Sem meias medidas. Desde que dê. Desde que renda. E as pessoas registam-se na registadora e vão vendo. Registando sem querer. E todos os dias são bombardeadas sem que lhes peçam licença. De manhã até á noitinha, é só sair de casa E pum! Naturalmente, A resposta de alguns é PIM! Normal. Causa consequência desde que haja consciência. Nem sempre há. Para uns cozido, para os outros frito, e para outros bem passado. Sempre foi assim e sempre será.

A "solução" tem e só pode ser encontrada dentro do "problema". Filosofias á parte, é na mudança de consciência de quem pinta que está a solução. Não deixem de pintar. Pintem é mais ainda. E melhor. E quem melhor pinta que o pinte. Que o diga. Que se permita. Que encontre também ai um filão de criatividade. Organizem-se para pintar. Por áreas. Por ruas, por esquinas, pela planta. Cor, liberdade criativa e mensagem. Se se puder pintar calmamente, com licença e conivência, se calhar não mando só um tag na parede. Vou á casa de banho e a seguir até lavo as mãos depois de fazer o que idealizei que ficava bonito com calma. O tag é rápido e fugaz. Dá estilo e é efémero. É como o "I LOVE YOU ...", versão I LOVE ME! No tag pode ser lido o amor próprio do "culpado". Eu vejo. É um jogo de linhas, fluidez, equilíbrio e nome/mensagem. Quando é. O tom caligrafico de alguém. O seu nome na rua. A sua etiqueta de "vândalo". A ponta de um suposto iceberg de quem em casa cria mais. Que pinta e projecta trabalhos. Crias faz. O que está por trás? - Que se mostre! Que se levante o pano por detrás do tag. Mostrem o porquê da assinatura. Ou vão assinando e jogando ao "quanto mais melhor". Ao mais visibilidade imposta porque sim. O jogo do aparecer mais do que tu. Sempre mais do que tu. Hip hop don't stop rules. Uma competição sempre inerente. Ou estás á altura ou não. Nasceu assim! É assim. - Agressivo? Nem por isso e não só. Leva á evolução através de um empenho dinâmico pela análise do trabalho do próximo. Ou não leva a nada e acabamos no técnico profissional que um dia "cagou" umas Paredes. E tem sempre muitas fotos que o provam. Digitais. Imensas...

Aos comerciantes e senhorios que ainda persistem em pintar a fachada e para o qual necessitam de licença camarária para escolher a cor, não desesperem... Aproveitem! Aproveitem o pintor "prevaricador". Vejam exemplos felizes de alguns vizinhos e perguntem por quem pinta. Vejam portofólios e façam encomendas. Bonitas. Com tintas! Muitas tintas. E para todos bem pensado.


O Bairro Alto não será as Docas. Nunca! Mudar o bairro pela autoridade, pelo controle brother ou pela política do cinzento será sempre ir de encontro á sua génese. Isso será matá-lo. Condicionar a sua alma. Quem quer tirar fotografias a paredes limpas pode e fá-lo nas outras colinas. Mas essa... Aproveitem-na bem. É especial. Muito dada e libertina. Sempre foi. E quem nunca "libertinou"... que atire a primeira pedra! Ou libertine qualquer coisa que se veja a olho nú porque nem toda a gente enfia o barrete.

Beijinhos",
Devir

3 comentários:

Anónimo disse...

Me parece muito boa!
Continuo ESPERANDO pela minha!!!!

Bom fim de semana!

Rute disse...

Já dizia uma publicidade antiga....
"Stucomat é uma grande tinta,(...) toda a gente pinta com a Stucomat!
: )
Grande pinta *

Rute disse...

Já dizia uma publicidade antiga....
"Stucomat é uma grande tinta,(...) toda a gente pinta com a Stucomat!
: )
Grande pinta *