"Perante a morte, entre muitas, existem diversas posições: a
que sustêm que o ser humano ao morrer sofre a separação do espírito e que,
dependendo da sua conduta, seguirá pela felicidade ou castigo; as que também
crêem na separação do espírito e que de acordo com o seu comportamento terreno
terá um karma que determinará a sua futura reencarnação; outras defendem que
depois da morte o espírito dá início a uma longa viagem da qual só voltam
alguns eleitos; existe a materialista que defende que com a morte voltamos a
ser matéria inorgânica.
Respeitando todas as crenças e posições arriscaria uma outra
sem a pretensão de que seja original ou verdade absoluta: Sou eterno. Somos
eternos.
E porque o afirmo?
Comecemos por questionar: Se o Todo é eterno, não será também
cada uma das partes que o integra? Uma coisa é certa, a finitude não poderia
originar eternidade.
Quando nascemos temos características determinadas que
constituem o nosso Eu. Refiro-me às características físicas e energéticas que
chamemos de espirituais. Se aos quarenta anos voltassemos a ver o nosso Eu que
nasceu, não o reconheceríamos, todas as suas características mutaram de tal
maneira que seria impossível a sua. Algo faz, que o nosso Eu se mantenha ao longo
dos anos apesar de todas as profundas e dramáticas mudanças que vai sofrendo.
As células do Eu mudam totalmente em cada sete anos, mas a sua identidade
mantém-se imutável. Esse algo consiste no seu padrão genético.
Se as células que compõem um organismo morrem, esse
organismo não se poderia considerar eterno. No entanto, as células não morrem,
regeneram-se organizadas de acordo com o seu padrão genético.
O ser humano cumprindo o seu ciclo evolutivo, procria. Ao
fazê-lo transmite através do ADN as suas características genéticas, tanto físicas
como espirituais, renascendo assim uma vez mais, com as modificações próprias
da evolução como um novo ser. Essa é a forma como nos tornamos eternos:
procriamos e multiplicamos-nos.
A vida é o resultado da organização de uma série de
elementos, de uma forma particular baseada na genética e esta é também ela o
resultado da evolução da energia.
As características genéticas são a nossa identidade
original, que nos permitem ser nós mesmos e não um outro. Ao procriar-mos com
outro ser, compartimos uma nova organização genética, e por meio da acção do
meio em que se desenvolverá e ao qual se adaptará, isto é, evolui.
Em cada procriação renasce-se e evolui-se evitando a morte.
Se o padrão genético, que permite a organização do meu Eu morre-se, então a
vida terminava. Mas, porque se transmite e multiplica posso disser que sou o
primeiro homem, mas também o último.
Por outro lado, se não procriarmos, não morremos porque
somos parte de um Todo. A nossa genética transmite-se a todos os filhos, isto
é, multiplica-se de tal forma que cada filho é também ele parte do outro, por
isso são irmãos. O que também nos permite afirmar que não somos um Eu mas um
Eu-Nós. Esta definição aproxima-nos uns dos outros reforçando em Nós a
concepção de Humanidade, aproxima-nos da Natureza e consequentemente do
Universo.
Afirmar que não morremos, mas que somos eternos, é
importante não pela discussão de vida ou morte, mas porque nos permite
encontrar maior sentido na Vida, no passado, neste presente e no futuro.
Tornamos-nos um só com os nossos filhos e irmãos, e com a humanidade;
prepara-nos para a necessidade de cuidar da nossa Casa, a Natureza onde
estaremos vivos para sempre; hoje integrados no nosso padrão genético como
seres humanos, e amanhã, graças à evolução, talvez como montanha, mas sempre
fazendo parte da mesma eternidade."
Traduzido de:
!Pura Vida!
Hernando Rojas R.
Quito, Ecuador
Para Maria Luisa, minha avó, maestra da minha liberdade,
benção da minha vida, exemplo de humanidade e eterna companheira de brisa e
vento. Voa livre meu Grande Amor.
Fotografia: Tim Meyer